Resgatar os ODS: Ganhar a confiança das pssoas e a solidariedade global.
Por António Saraiva, Business Development Manager na ISQ Academy
“O Mundo reúne-se em Nova Iorque em busca da confiança perdida!” Os países-membros das Nações Unidas voltam a reunir-se, em Nova Iorque, para uma 78.ª Assembleia Geral focada no tema da “reconstrução da solidariedade global” — mote escolhido pelo representante de Trindade e Tobago na ONU, Dennis Francis, que traduz as tensões entre as prioridades atuais nos países mais desenvolvidos e as reivindicações das economias emergentes. Desigualdades económicas, alterações climáticas e… guerra na Ucrânia são temas centrais.
Realisticamente, para o Secretário Geral da ONU, António Guterres, um dos objetivos para a Assembleia Geral é fechar um acordo para “resgatar” os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), depois de várias agências da ONU terem alertado que a pandemia e a guerra na Ucrânia atrasaram o seu progresso em quase todo o mundo. Apesar da relevância que os ODS deveriam ter, a verdade é que não parece ser um tema assim tão sedutor que seja considerado como prioridade, pelo menos aparentemente. Como se pode esperar que a Sociedade Civil possa contribuir, se grande parte da mesma não conhece o que está em causa.
No dia 9 de junho , o Instituto Nacional de Estatística (INE) lançou a mais recente edição da publicação anual que faz o balanço da implementação da Agenda 2030 em Portugal, com uma análise mais alargada do que anteriormente. O relatório publicado pelo INE destaca que 101 indicadores analisados registaram uma evolução favorável, tendo 20 destes atingido a meta definida para a sua concretização. Ao mesmo tempo, 28 indicadores registaram uma evolução no sentido contrário e 3 mantiveram a avaliação registada no âmbito da atualização anterior.
Na análise pelos 17 ODS, verifica-se que a maioria dos indicadores evoluiu favoravelmente ou atingiu a meta. Apenas três ODS, apresentaram menos de 50% de indicadores com evolução positiva: Igualdade de Género, Proteção da Vida Marinha e Proteção da Vida Terrestre. Curiosamente, no primeiro caso, a disparidades na participação cívica e política, com redução de deputadas na legislatura parlamentar, assim como menos mulheres nas eleições autárquicas em 2021, é um exemplo negativo.
Mas resgate-se o essencial: uma conjuntura tão adversa como a atual poderá servir de mote para que se faça muito mais e melhor e de forma mais rápida. As catástrofes naturais, os níveis de conflitualidade global e social, estão a alertar para o que não foi feito. Os ODS têm em vista, na sua essência, a condição humana. Deixar para trás as Pessoas em prol de operações de cosmética ou de interesses estritamente financeiros, não é o mais avisado.
Como se pode erradicar a pobreza e a fome, como podemos ter uma Saúde e uma Educação de Qualidade, como podemos dizer que mulheres e homens têm os mesmo direitos, como consideramos o trabalho digno como prioridade e protegemos a Natureza, só para utilizarmos alguns exemplos, sem comunicarmos as metas que devem ser atingidas, como obtemos o comprometimento das Pessoas na sua execução e atingimento se não comunicamos? Sim, há que recuperar a confiança! Sim, há que reconstruir a solidariedade! Exemplos e ações precisam-se. E com orientações objetivas e planeadas. Sem receio de não se ser sedutor. Por uma vez é a realidade que importa, para não se continuar a deixar as Pessoas para trás.