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19
JUN

2023

"Formação e Employer Humanization: um equilíbrio transformacional?"

Por António Saraiva, Business Development Manager na ISQ Academy | Human Resources

Quando entramos em conversas mais formais ou informais e ouvimos a expressão “no meu tempo…” já sabemos que algo está a correr menos bem e que a memória vai comandar o discurso de alguém, ou interferir na discussão de dada temática. Sem entrarmos em deambulações de ordem mais política, a verdade é que muito do que hoje se discute no âmbito da educação e do emprego, está muito à volta do referencial da memória. E não estamos a falar exclusivamente de salários, porque este é sempre tema, em particular nos tempos que correm.
Parabenizando o relatório acabado de ser divulgado do Estado da Nação 2023, da Fundação José Neves, o mesmo deve servir como acelerador de uma reflexão mais que urgente no País. Em particular nas componentes vitais da vida dos cidadãos: educação, emprego e produtividade. Todas elas relacionadas entre si e apontando para um novo paradigma no mercado de trabalho – o estar baseado em competências em vez de profissões.
Na verdade, “no meu tempo” não era melhor. Era essencialmente, o que podia ser. Sem dúvida que certamente se perderam alguns Valores, mas inquestionavelmente sabíamos que os mesmos teriam de evoluir e transformarem-se, em função de novos requisitos, impulsionados em grande medida por toda a evolução tecnológica. Aquilo que assistimos hoje em dia, nomeadamente ao nível de alguma convulsão social, parte também de muito pouco se ter feito ao nível de certa obsolescência dos sistemas vitais da nossa sociedade, pelo menos em alguns dos seus níveis. A verdade é que o sistema educativo, o sistema de saúde, por exemplo, enfermam de um grande mal: perda de atratividade profissional. Por questões salariais? Também, mas não só!
Sim temos salários mais baixos que a média europeia. Para aumentar salários temos de aumentar produtividade, e aqui perdemos terreno também face à média da Europa. Mas neste ponto sabemos que a Formação Profissional promove a produtividade, mas quando verificamos que a estatística nos diz que a aposta das empresas é só de 16%, perguntamos afinal que caminho queremos seguir. Estamos em alta no discurso da Transformação Verde e Digital, nos grandes desafios que a Inteligência Artificial nos está a colocar, mas esquecemos o essencial. Ou começamos, não a pensar, mas a agir sobre a base do nosso sistema educativo, com uma preocupação efetiva da gestão dos respetivos profissionais, captando e retendo os melhores e numa aposta também clara na Formação ao Longo da Vida, ou não vamos conseguir ter um mercado robusto, competitivo e produtivo.
Enquanto desperdiçarmos tempo e energia no que não é estrutural, enquanto a preocupação estiver mais focada na competição e não na competitividade, ou em interesses particulares e não gerais. Enquanto não se perceber a importância de que um Acordo implica cedências mútuas, o que estamos a fazer é comprometer o futuro. Há indicadores chave positivos, mas não os desperdicemos. Se bem que importantes, não nos podemos deslumbrar com indicadores macro-económicos positivos, pois os mesmos têm de ser coerentes e acima de tudo sustentáveis e que perdurem no tempo. Sabemos que os recursos são finitos, mas o mais preocupante é quando não se aproveita o que se tem à disposição para investir no seu bem mais precioso: o Capital Humano!